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Daniel Cukier
Daniel Cukier

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Introdução a Cardano

As tecnologias de web3 como blockchains, smart contracts, NFTs, tokens, cada vez mais se tornam um assunto necessário no cardápio de conhecimento de quem desenvolve software. Nos últimos anos, vimos um crescimento exponencial de comunidades de desenvolvimento em torno dessas tecnologias. Apesar de ser um mercado que cresce muito, ainda é bastante jovem e há muita coisa para ser criada.

Uma notícia muito relevante em 2021 foi o fato de El Salvador adotar o Bitcoin como moeda oficial. Vivemos um momento muito interessante, um experimento maravilhoso que está acontecendo: uma nação, pequena claro, com seus problemas também, mas que está adotando o Bitcoin, uma moeda totalmente descentralizada, como moeda oficial.

Nesse artigo, eu gostaria de focar numa dessas tecnologias que, para muitos, pode parecer até obscuro. Tenho acompanhado o cenário web3 desde 2021 e passei a admirar um projeto em particular que gostaria de compartilhar com vocês. Algo que possa ser útil, tanto nesse momento da carreira quanto no futuro. Quando estiverem entrando nessa jornada, na minha opinião, saibam que é uma jornada sem volta. Quando você entra para web3, você não volta mais. Você percebe que realmente é um universo à parte, tem muito assunto para aprender, muita inovação para ser criada, soluções para problemas reais, problemas da humanidade que podem ser resolvidos com essas tecnologias.

Hoje eu escolhi falar de uma cripto específica, que na verdade não é apenas uma cripto-moeda, apenas uma blockchain, mas todo um ecossistema. É uma grande revolução que se chama Cardano.

Vou explicar aqui desde o zero, fazer uma introdução bem básica sobre o assunto. O foco aqui não é falar do mercado, do preço da moeda, se está barato, se está caro, como ganhar dinheiro fácil. A ideia aqui é aprender como a gente pode - como desenvolvedores de software - usar tecnologias para criar inovações. O foco desse artigo é técnico, para developers, para administradores de sistema, para pessoas que trabalham com redes, pessoas que querem operar nessas redes descentralizadas, que querem ser agentes da mudança de web2 para web3, operando e criando aplicações em blockchains.

Como surgiu a Cardano

Antes de falar de Cardano, vamos contextualizar. O primeiro grande sistema, a primeira grande rede descentralizada foi o Bitcoin, o precursor de todo esse universo de criptoativos. O Bitcoin foi criado por uma pessoa que ninguém sabe quem, um tal de Satoshi Nakamoto, que na verdade é um pseudônimo. Uma pessoa que não existe. Ninguém sabe quem criou. Já existe muita especulação e artigos tentando explicar quem foi Nakamoto. Mas fato é que o Bitcoin está aí até hoje, cresceu, se desenvolveu. Depois de certo tempo, algumas pessoas perceberam que o Bitcoin tinha lá seus defeitos, características que não atendiam algumas necessidades. Decidiram então inventar uma nova rede descentralizada, uma nova cripto-moeda, para resolver os problemas que o Bitcoin não resolvia.

Essa nova rede foi a Ethereum, seria uma espécie de Bitcoin 2.0 - criada e idealizada por Vitalik Buterin. Um gênio de 19 anos, escreveu um artigo (conhecido como whitepaper). As pessoas gostaram da ideia revolucionária dele. Juntou-se um grupo de entusiastas e começaram a desenvolver a rede. Essa história é contada no livro The Infinite Machine (por Camila Russo) - ainda sem tradução para português. O livro conta como surgiu o Ethereum e, assim, a primeira grande evolução do Bitcoin.

Por que o Ethereum era diferente do Bitcoin? Por que ele trouxe a possibilidade de rodar contratos inteligentes na rede descentralizada. O Ether não era só uma moeda, mas o combustível para todas as operações que rodassem dentro dessa rede e o preço a ser pago para rodar os tais de contratos inteligentes. Foi a primeira solução tecnológica que permitia rodar sistemas Turing completos dentro de uma rede descentralizada. O Bitcoin tem algo mais rudimentar, uma linguagem de script, que permite a você escrever determinadas regras das transações de Bitcoin, mas essas regras são limitadas. Na Ethereum era possível que transações financeiras fossem regidas por regras escritas em Solodity, uma linguagem de programação específica para Contratos Inteligentes e que era Turing Completa. Logo, você poderia rodar qualquer código, simular um computador real e fazer qualquer operação que um computador qualquer consegue fazer.

Essa rede Ethereum, descentralizada, composta por milhares de computadores, é uma rede sem dono, ou melhor, qualquer computador poderia teoricamente se juntar a rede, a rede do povo. Hoje existem nós espalhados pelo mundo inteiro, milhares de computadores ligados em rede, capazes de processar essas regras de negócio financeiras e transações sem necessariamente ter um agente central controlando.

O Ethereum foi um grande sucesso, apesar, claro, de muitos problemas ao longo dos anos. Foram sete pessoas que fundaram a rede e criaram a Ethereum Foundation. Um desses fundadores, o primeiro CEO da Ethereum, foi Charles Hoskinson. Ele ajudou o time a construir as primeiras peças do quebra-cabeça da blockchain. Tudo na época (2015) era novo, não havia regulação. Seria uma empresa? Uma fundação? Onde ficaria o dinheiro? Charles ajudou a desenrolar esses assuntos, porém acabou se desentendendo com as outras pessoas do time, por divergências de visão. O livro The Infinite Machine detalha bem a história. No fim, fizeram uma votação e decidiram que ele deveria sair.

Nesse momento, ele decidir tentar criar algo melhor ainda que o Ethereum. Foi aí que surgiu a Cardano. A ideia era criar algo que usasse as melhores ideias do Bitcoin, da Ethereum, mas que fosse além, resolvendo problemas que nem uma das duas redes conseguia resolver.

Cardano é uma rede. Ela opera usando uma moeda, a ADA, uma referência a Ada Lovelace, a primeira pessoa programadora, uma mulher fantástica que criou os primeiros códigos que rodaram em computadores. Se você quiser comprar a moeda, você procura em qualquer Exchange pelo código ADA. Mas quais as diferenças entre Cardano e Bitcoin ou Ethereum?

Processo de Desenvolvimento Robusto

A primeira grande diferença está no processo de desenvolvimento da rede. Tudo que é criado na Cardano passa por pesquisas rigorosas e
publicações de artigos científicos em simpósios e revistas especializadas, com revisão de pares. Isso torna o processo lento, porém o produto final tem muito mais segurança e robustez.

Assim, as tecnologias criadas são muito lapidadas, possuindo muitas vezes provas matemáticas formais como garantia da sua qualidade e funcionamento.

Essa abordagem é oposta à da Ethereum. No Ethereum, as pessoas saem escrevendo código, deixando o código quebrar muitas vezes para então melhorar. Claro que essa abordagem tem suas vantagens. É possível lançar as melhorias com muito mais rapidez. Por outro lado, existem riscos. Na verdade, a própria Ethereum sofreu muito com isso, tiveram vários problemas de segurança. Esses problemas tiveram que ser sanados. Um dos mais famosos foi o da The DAO, quando hackers invadiram a rede roubaram milhões de dólares. Essa história acabou prejudicando muito a credibilidade da Ethereum.
Muitos desses problemas já foram sanados, mas essa mentalidade de sair escrevendo código e jogar em produção é boa, porque você já testa rápido.

Por outro lado, a Cardano quer ser a maior e mais segura rede descentralizada do mundo. Eles querem ter certeza de que não vão sofrer nenhum tipo de ataque, que tudo está perfeito. Por isso abordagem mais lenta e científica.

Três pilares

O projeto da Cardano está baseado em 3 grandes pilares:

  • Escalabilidade
  • Sustentabilidade
  • Interoperabilidade

1 - Escalabilidade

A Cardano pretende resolver o problema de escalabilidade do Bitcoin e da Ethereum. Enquanto Bitcoin foi projetado para processar no máximo 7 transações por segundo (tps) e a Ethereum processa 30 tps, a Cardano pretende chegar a 250 tps na primeira fase e 2 milhões de tps quando implementar a segunda fase (Hydra). Existem soluções paralelas no Bitcoin (Lightning Network) e na Ethereum (Arbitrum, Optimism, Polygon) mas todas são redes paralelas, desconectadas da camada principal (layer 1). Cardano quer resolver o problema de escalabilidade na sua própria rede, conseguindo fazer milhões de transações por segundo.

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Além do volume de transações, Cardano também resolve as questões de escalabilidade da rede. Conforme a rede cresce, deve existir banda suficiente nos nós para atender ao volume de transações. A Cardano propõe sub-redes e compressão eficiente de dados para resolver isso.

Para que os nós não tenham que armazenar um volume enorme de dados e comprometer a descentralização da rede, também são utilizadas técnicas de sharding e compressão dos dados nos nós.

2 - Sustentabilidade

Normalmente, quando os projetos de cripto-moedas são lançados, é feito um ICO (Oferta Inicial de Moeda). As pessoas interessadas em investir no projeto compram um token na espera de utilizar a rede no futuro e eventualmente ganhar com a valorização desse token. O dinheiro arrecadado no ICO é usado para desenvolver o projeto. O problema dessa abordagem é que o projeto recebe recursos apenas no início. A Cardano foi desenvolvida de uma maneira que uma parte das taxas de todas as transações que ocorrem na rede vai para um tesouro. Esse tesouro é uma carteira especial onde ninguém tem acesso direto. Quanto mais a rede cresce, mais dinheiro vai ser guardado nesse tesouro.

Para liberar o dinheiro do tesouro, existe um programa chamado
Projeto Catalyst. Qualquer pessoa pode propor uma melhoria ou projeto dentro da Cardano. Caso a comunidade considere esse projeto benéfico, é feita uma votação e recursos do tesouro são liberados para poder financiar o projeto. Cardano vai muito além de ser apenas uma tecnologia revolucionária. Ela também é uma tecnologia social revolucionária, porque faz com que pessoas comuns como eu e você possam propor melhorias e projetos para serem implementados dentro desse ecossistema.

Como funciona? Simples: você se cadastra como membro da comunidade, escreve um projeto, vende o seu projeto e convence as pessoas da sua importância. Caso tenha sucesso e seu projeto seja aprovado, você passa a fazer parte da lista de pessoas contribuidoras e pode ser remunerada por isso. Isso melhora o ecossistema, melhora a tecnologia. Se você tem ADA, se tem amigos ou amigas que possuem ADA, todas essas pessoas podem votar em você. Você recebe parte desse tesouro para poder trabalhar no seu projeto. Isso é algo muito inovador e autossustentável, pois sempre vai haver recursos novos sendo gerado para que as pessoas continuem investindo seu trabalho e desenvolvendo de forma descentralizada a rede. Totalmente democrático, escalável e inclusivo.

3 - Interoperabilidade

A ideia da Cardano é ser uma rede que agregue todas as outras. Hoje já existem milhares de blockchains e suas respectivas moedas (Polygon, Solana, Terra, NEAR, etc). Todas elas operam dentro das suas próprias redes. A ideia da Cardano é de juntar todas essas redes externas e fazer interoperabilidade entre elas de maneira que você não precisa se preocupar com qual rede você está. Você opera só na Cardano e consegue ter acesso a todo tipo de cripto-ativo.

Outro ponto de interoperabilidade que a Cardano pretende atacar é na comunicação com o mercado tradicional de finanças (TradFI). Na Cardano é possível agregar meta-dados de qualquer tipo a qualquer transação. A esses meta-dados podem-se adicionar informações relevantes à transação, de modo que um agente externo à blockchain possa usar essas informações para integrar esses dados com sistemas fora da rede. Por exemplo, a transação pode incluir o número de uma nota fiscal, uma identidade legal como CNPJ ou CPF. Qualquer transação que você faz no mundo real, de alguma maneira, precisa ser informada para governo, um banco, uma empresa, um advogado, etc. Essas instituições podem automaticamente ler esses dados na Cardano e ter o rastro das operações que estejam de acordo com a regulamentação

Próximos Passos com Cardano

Explore os artigos da web3dev para saber mais sobre Cardano. Aqui você encontrará material sobre como criar um nó próprio na rede, como criar carteiras, como transferir fundos, como criar contratos inteligentes e aplicações descentralizadas na Cardano. Já fiz alguns vídeos no meu canal sobre o assunto e quero continuar postando artigos escritos no decorrer do tempo.

Caso você tenha se interessado, se inscreva no Projeto Catalyst, ou no programa Plutus Pioneer, que é um treinamento mundial na linguagem Plutus e Haskell, a tecnologia usada para escrever contratos inteligentes na Cardano.

A Cardano também faz um trabalho social muito sério, olhando para sua tecnologia como ferramenta para resolver problemas reais da humanidade. A comunidade atua não só em países desenvolvidos, mas principalmente em locais que recebem pouca atenção do mundo das finanças e dos negócios. Eles são muito ativos no continente africano, onde já existem vários projetos de inclusão social. Aqui na América Latina ainda está engatinhando e esperamos acelerar esse movimento com a web3dev.

Ainda há poucos profissionais que trabalham com Cardano no Brasil, então se você quer entrar em algo novo, algo que está começando e que pode crescer e explodir, vale a pena se aprofundar.

Se você quiser apenas criar uma conta numa Exchange e comprar algumas ADAs porque você acredita nesse projeto, é uma maneira também de ajudar o ecossistema. Se estiver trabalhando com isso, detendo o token, acaba se tornando sócio do projeto que você está construindo. A ideia não é colocar todo seu dinheiro nisso, porque ainda é algo incerto e arriscado, mas pode ser uma boa experiência inicial no mundo web3.

Para desenvolver na Cardano, você não precisa ter nenhuma ADA. Todos os testes são feitos na testnet, de modo que o dinheiro lá é "de mentirinha". Você não precisa gastar ADA real para desenvolver. Você só gasta quando de fato colocar o seu projeto em produção na rede principal.

Para se manter atualizado em Cardano, mais algumas dicas:

Agora é mão na massa! Não espere ter todo o conhecimento para começar. Aprenda fazendo! Boa Cardanada pra você!

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